As noitadas nos bancos de praça eram longas: ficávamos ali, conversando, contando piadas, ouvindo um som ou fazendo um com os violões. Hoje, eu até entendo porque quando encontro meus amigos ficamos até altas horas, - quando não amanhecemos o dia - conversando; mas naqueles tempos, nos víamos na escola, na rua, íamos às casa de cada um e ainda assim estávamos costumeiramente a ficar nestes esquemas.
E eram vários os esquemas. Lembro que, de certa feita, resolvemos tocar numa noite de Natal (ou Revellon?) em uma praça qualquer e, entediados por sermos os únicos a estarmos lá, decidimos ir para a casa do Pedro prepararmos uma bebida para nos aquecer no frio Muritibano. Não tínhamos dinheiro de modo que , seja lá o que fôssemos fazer, teria de ser na base da "reciclagem" e "reaproveitamento".
Na casa de Pedro, pegamos umas sobras de vodkas, whysky, conhaque, colocamos tudo no liquidificador, misturamos mais umas frutas, açúcar e acho que até leite foi no caneco! Estava feito: uma coisa que batizamos de "Pedrus Flamejante" em referência ao "Homer Flamejante" do episódio "Flaming Moe´s", do desenho "The Simpsons".
Ao contrário do desenho, porém, o "Pedrus Flamejante" tinha gosto de tinta... de tecido! Não servia como tinta, é certo, pois ainda guardava um forte cheiro de suco de manga. Mas não conseguimos beber e chegamos a encher um pet de dois litros para "garantir" a noitada. Ao voltarmos para a praça, no entanto, encontramos um dos "bêbados de rotina" da cidade. Pensando em dar um bom destino à nossa iguaria, doamos todo o seu conteúdo, com a garrafa e tudo, para o necessitado rapaz, que o aceitou de muito bongrado e o levou seguindo o caminho que já fazia. Só lembro que, no dia seguinte, o Paulo disse que viu o cara todo "arrebentado" (machucado) em uma das ruas da cidade. Ficamos sem saber que outra propriedade do "Pedrus Flamejante" não descobrimos...