terça-feira, 19 de outubro de 2010

Nada traumático

Não sei quando começou... Ou se começou! O lance é que não terminou e é fato que ao se ter uma vida profundamente marcada pelas amizades, situar-se no tempo em relação aos eventos, às experiências que fazem de você o que você é hoje, é um exercício difícil, seja pela riqueza de detalhes, seja por que em nada foi traumático. Muito pelo contrário: mesmo com as brigas e desavenças - que não foram poucas - tudo o que guardo de meus amigos é a excelência naquilo que são.

Bem, ninguém é perfeito... E quando falo de excelência no que são, falo de coisas únicas, ímpares que foram capazes de promover e que por vezes me tomo em gargalhadas no almoço, em ambientes de trabalho, conversando com outras pessoas ao lembrá-las. Recentemente, por exemplo, gargalhei ao receber, por uma rede social, um convite para participar da lista de amigos do Jorge. Jorginho era como o chamávamos na infância. Mas isso foi até ele conhecer Alex, que dizíamos "estar no corpo do diabo" de tão levado que era, e já era conhecido pelo codinome "Amebão".

Eram tempos de ginásio (acho que por volta do ano de 1991), sendo muito comum nos encontrarmos no recreio para papear enquanto 99% do colégio jogava futebol. Amebão, mais tarde abreviado para "Memé", que era de uma série mais adiantada, conversava comigo quando Jorginho apareceu e começou a fazer aquilo que na época nos chamávamos de "zoar" (hoje, é bullying). Claro, em 1991 as coisas ainda se resolviam no recreio e tudo só passava dos limites quando se chegava à coordenação (coordenação, não é direção!). E acidentes graves aconteciam, mesmo sem armas de fogo.

Nessa de ficar "zoando", Memé não se intimidou: pedia insistentemente para Jorginho parar e fez ameaças. Não pela sua "santa vontade", mas porque "não levava desaforo para casa". Até que numa brincadeira e atitude sem noção, Jorginho pega uma pedra e, com um riso debochado no rosto, faz com que fosse atirar em Memé. Nesse instante, Memé, que se encontrava de pé atrás de um dos caibros da cerca que rodeava a árvore sob a qual estávamos, diz: "se essa pedra pegar em mim, você verá". Foi "a deixa": Jorginho atirou a pedra, mas de modo que atingisse o caibro, pois sabia (quero crer nisso) das consequências de ser atingido por uma. Memé, entretanto, sem brincar (e com muito menos noção), ao ver Jorginho correr, abaixou-se, recolheu a mesma pedra atirada e a arremessou numa elípse de perfeito cálculo vetorial, atingindo a cabeça do Jorginho cerca de vinte metros de seu local, que caiu ensanguentado. Jorginho, ao se levantar, continuou a correr, dessa vez para a coordenação, onde já se encontra va Memé, que teria ido caminhando calmamente e se apresentado como autor do fato antes mesmo da vítima e prova material terem chegado.

A partir de então, Jorginho passou a ser conhecido como Pedrada, apelido que (sim, eu vi!) foi dado pelo próprio Mémé quando juntos participaram de caminhadas nas trilhas e montanhas de Muri City... É... algo único, ímpar e nada traumático.

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